CONJUNTURA
RESUMO ECONÓMICO - AINDA SOBRE O 1º TRIMESTRE DE 2025
Os Estados Unidos atravessam um momento delicado em termos fiscais. Em pleno processo de negociação orçamental, os números são cada vez mais difíceis de ignorar: O défice público situa-se nos 6,5% do PIB, a dívida pública bruta ronda os 120% do PIB e o custo anual do serviço da dívida representa já 3,8% do produto. Estes níveis históricos, colocam em causa a credibilidade da dívida soberana americana, refletindo-se nas recentes descidas de notação por parte das agências de rating. A Moody’s, por exemplo, projeta que o défice poderá atingir cerca de 9% do PIB até 2035 (atuais 6,4%) enquanto a dívida federal poderá escalar até 134% do PIB na próxima década.
Este cenário levanta dúvidas sobre a capacidade de os EUA manterem o seu papel central na ordem económica global: Como fornecedor de bens públicos essenciais, defensor do comércio livre, emissor de uma moeda estável e credor de última instância. A nova ordem mundial permanece indefinida, com os EUA e China cada vez mais em confronto direto, após uma coexistência económica paralela e vantajosa.
Do lado português, os sinais são mistos. A estimativa de crescimento económico para 2025 foi revista em baixa, de 2,4% para 1,7%. O consumo das famílias mostra sinais de desaceleração, esgotado o efeito temporário das menores retenções em IRS e dos apoios extraordinários a pensionistas. O Governo pretende agora repetir a medida com nova redução das retenções em sede de IRS.
Por outro lado, quer o investimento, quer as exportações, registam quebras. No mercado de trabalho, espera-se que a taxa de desemprego estabilize nos 6,4%. Ainda assim, o saldo líquido é positivo: foram criados cerca de 120 mil postos de trabalho em comparação com o mesmo período do ano anterior. A inflação, por seu lado, deverá situar-se nos 2,1% e dentro do objetivo do BCE que, após oito cortes consecutivos, deverá agora manter as taxas diretoras inalteradas por algum tempo.
No primeiro trimestre de 2025, o mercado imobiliário residencial português deu sinais claros de dinamismo. O Índice de Preços da Habitação registou uma valorização homóloga de 16,3%, e uma subida trimestral de 4,8%. Foram transacionadas 41 358 habitações, um aumento de 25% face ao mesmo período de 2024. O preço médio das casas vendidas atingiu os 232 500 euros, o que representa uma valorização homóloga de 14%.
Nos últimos 12 meses, o preço médio das casas cresceu 11,4%, tendência que deverá manter-se ao longo de 2025. A conjugação entre uma oferta que cresce a um ritmo modesto e taxas de juro ainda mais favoráveis está a sustentar uma procura consistente. Em maio, o valor mediano da avaliação bancária fixou-se em 1 886€/m² (+17,1% face a 2024), com a Península de Setúbal a registar a maior variação homóloga (+21,1%). Portugal avança com cautela num contexto internacional incerto, onde a estabilidade de ativos reais como o imobiliário pode revelar-se uma âncora de confiança.
Fontes: INE, BdP, BPI Research, Eurostat, Yahoo Finance, BCE, Turismo de Portugal
ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
i. Gestão Corrente
ii. Conquistas
Subscrição do projeto: VILLA GUINCHO
iii. Melhorias e Evoluções
TODOS
CONTAM
INVESTIR: ENTRE O INTANGÍVEL E O FINANCEIRO
Investir é, acima de tudo, uma decisão de futuro. É escolher com responsabilidade onde colocar os recursos de hoje, com a intenção clara de colher frutos amanhã. Mas esta decisão, por mais racional que pareça, exige uma (profunda) reflexão pessoal: sobre os objetivos, os riscos, o tempo e sobretudo, o perfil de quem investe.
Existe quem procura segurança, outros procuram retorno. Uns querem preservar, outros multiplicar. Mas a verdade é que todos enfrentam a mesma pergunta: “Onde devo investir?”. E esse caminho começa por uma outra questão, mais essencial: “Que tipo de investidor sou eu?”
Investir não é um jogo de sorte. Não se trata de adivinhar o próximo ativo que vai valorizar, mas sim de alinhar escolhas com metas reais e com a tolerância ao risco de cada um. Um investimento que funciona para um jovem solteiro com 30 anos e elevado apetite pelo risco pode ser desastroso para um casal reformado que depende dos rendimentos mensais. O ponto de partida é de entender o próprio perfil: Mais conservador ou mais ousado? Mais preocupado com o rendimento imediato ou com a valorização futura? Com liquidez ou com património? A resposta a essas perguntas permitirá traçar uma estratégia de investimento realista e sustentável. E só então passar à análise das alternativas existentes.
O investimento imobiliário tem uma característica única: é tangível. Pode-se tocar, visitar, modificar. Para muitos investidores, especialmente em Portugal, este lado palpável oferece uma sensação de segurança difícil de replicar com outros ativos. Além disso, o imobiliário permite gerar rendimentos de diversas formas (arrendamento, venda, gestão) e permite alcançar taxas de retorno atrativas, frequentemente superiores às de produtos financeiros mais conservadores. O investidor pode ainda ver aumentar o valor do ativo através de melhorias, por um posicionamento estratégico no mercado e através da inflação.
Contudo, seria um erro ignorar os seus riscos e exigências. Investir em imobiliário é, quase sempre, um processo moroso. Exige tempo, atenção e capacidade de lidar com imprevistos e mais importante ainda, o investimento imobiliário está sujeito a incertezas de calendário e volatilidade no valor de saída. Obras podem derrapar, licenças podem atrasar-se, mercados podem-se alterar através da mudança da conjuntura económica, da alteração da política fiscal vigente no momento da venda. E ao contrário de um produto financeiro, o imóvel não tem liquidez imediata: vender um imóvel pode levar meses, ou até mais, especialmente em contextos adversos. O imobiliário tende a oferecer retornos mais elevados, mas à custa de mais tempo, mais capital e maior imprevisibilidade. Do outro lado estão os produtos financeiros: ações, obrigações, unidades de participação, ETFs, certificados do tesouro, certificados de aforro, entre outros.
Estes instrumentos oferecem vantagens evidentes: liquidez imediata, acessibilidade com pouco capital e diversificação com baixo custo. Em minutos, um investidor pode comprar ações de empresas, títulos de dívida de diferentes países ou fundos com exposição a centenas de ativos. Tudo isto com a possibilidade de acompanhar diariamente o valor do investimento e de resgatar com facilidade. Por outro lado, esta liquidez e simplicidade, têm um preço. A maioria dos produtos financeiros com capital garantido (como depósitos a prazo ou obrigações) oferecem rentabilidades modestas. Já os instrumentos com maior potencial de retorno (ações ou fundos de ações) apresentam maior volatilidade e exigem uma visão de longo prazo e capacidade emocional para suportar quedas temporárias do seu valor.
Importa também referir que muitos investidores sentem uma distância em relação aos produtos financeiros: não os compreendem, não os controlam diretamente e por vezes, não sabem avaliar o risco real de cada instrumento. Isto leva a decisões mal informadas ou guiadas apenas por “dicas” e modas, o que é sempre um risco em mercados mais voláteis.
Não existe o investimento “certo”. O melhor investimento será sempre aquele que respeita o tempo, os objetivos e o perfil emocional do investidor. Para alguns, o imobiliário é a âncora de segurança, para outros é uma fonte de inquietação. Para uns, os mercados financeiros são uma ferramenta poderosa, para outros são um território desconhecido. O essencial é investir com consciência. Com conhecimento. Com um plano. E com a noção de que, tal como em qualquer jornada, os frutos mais valiosos são os que exigem tempo, paciência e visão.
Nuno Santos, Asset Manager
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Julho 2025